sexta-feira, 25 de julho de 2008

Miles em mim




                               

 Com meu trompete em punho sigo a revolução permanente.




quarta-feira, 16 de julho de 2008

Ana Cañas e a Terceira História

        

      Um feixe de luz se abre do céu quando Ana Cañas entra no palco. O tempo pára e começa uma jornada de onde não se pode sair ileso.
      O primeiro acorde e um arrepio na espinha. Ela nasceu para se ser ao vivo, e sabe disso. 
      Os olhos marcantes voam longe e sua alma encara a humanidade com garra de bicho feroz. 
      É sua voz que impressiona sim, com potência e domínio. Mas ela toda vibra em puro improviso de quem se lança na vida sem rede de proteção. 
      Há nela uma espécie de líder de geração, de profetisa dos novos tempos.
      É tomada por força estranha que poderia se pensar que está incorporada por misteriosa entidade da música. Nessa dimensão paralela seres dançam na penumbra de um cabaré antigo, brindam com sorrisos de reconhecimento dos que sabem pelo que a vida vale a pena ser vivida. 
     Há nela uma atmosfera de becos soturnos, madrugadas embriagadas, do olhar da primeira mulher que passou batom, da sedução dos balcões.
     Através dela todas as dores e amores do mundo são expurgados num equilíbrio constante.
      Aliou-se à uma legião estrangeira de pessoas que carregam imensos instrumentos e são capazes de com eles preencherem todos os vazios.
      Sua língua é a da loucura que é a única capaz de expressar o que não se pode entender.


terça-feira, 15 de julho de 2008

Sobre a arte de ver beleza em todas as coisas ou quando um homem lava sua roupa






                        Ou simplesmente
         como somos parceiros no jeito de 
                       olhar.                                   

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Pedrinhas de Aruanda







    E no meio de isso tudo eu paro pra cuidar da minha horta. Enquanto meu filho brinca na tarde ensolarada de inverno. Empilha pedrinhas e me imita, podando as folhas secas.
    Maria Bethânia canta seu Santo Amaro no dvd já gasto de tanto rodar e caso este post tenha um tema, e caso algum dia precise eu de algum tema pra viver, sempre volto e voltarei à ela: Maria Bethânia.
    Aos 15 anos percebi que existia um jeito simples e bom de se ser, e foi ela quem me apresentou.
    As cadeiras na calçada, as roseiras na varanda, as toalhas secando ao sol e uma suave brisa do mar nos cabelos.
    Me ensinou um jeito lindo de se olhar para o próprio país. De se respeitar sua cultura, pois quando ela canta o sertão que há em mim se abre e não há um só camponês que não seja eu. Sou todos, sou diversos. Sou negro, velho e iletrado. Sou terrivelmente feliz.
    Sinto cada fibra do músculo do meu coração se tonificar e ficar forte para a vida, pois para a música de pouco ou nada servem os ouvidos, música é assunto para a alma, e portanto, para os corajosos.
     Todos os poetas, todos os profetas a carregam como numa procissão quando ela canta. Tudo se ilumina, de tudo brota.
     Ela carrega o uivo do primeiro índio acuado nos trópicos, carrega o brado dos portugueses ambiciosos, carrega o canto do passaredo alheio, carrega os lamentos dos escravos, as risadas dos senhores, a festa na aldeia.
     Uma verdadeira cerimônia litúrgica se inicia quando ela chega. Yansã banha seus pés junto da Virgem Maria, e todos os santos dançam ao seu redor. É mais que uma voz, é mais que dona do dom, é rainha soberana, a verdadeira senhora das tempestades. Sem ela tudo seca, tudo é inútil e vulgar.
     Não é para todos, não é para todas as horas. É preciso saber usá-la. Guardar no fundo do peito para quando se precisa. É para olhos cansados mas jamais tristes. É para a vida com tanta intensidade que deve-se parar de viver por instantes para conseguir suportar. É para quem cultiva um pequeno broto de manjericão.