segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Para encher os olhos meus








Pra você guardei o amor
Que nunca soube dar
O amor que tive e vi sem me deixar
Sentir sem conseguir provar
Sem entregar
E repartir

Pra você guardei o amor
Que sempre quis mostrar
O amor que vive em mim vem visitar
Sorrir, vem colorir solar
Vem esquentar
E permitir

(nando reis)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009





Vísceras, por favor. Agora as vísceras, meu bem. Eu quero o que houver de sangue e tinta em ti. Eu quero justamente aquilo que você chama de sujo. Agora quero cada esquina encardida e mofada de vida escabrosa. Posso ver fogo no seu olhar, eu sei que você sabe que tem. Agora vai, docinho, vire-se pois quero ver seu jeito certo de andar e dizer que sabe fazer escolhas na vida. Quero ver chegar em casa e enquanto fuma um fritar um bife mal passado ouvindo Velvet Underground. Essas vizinhas podiam ao menos fazer silêncio uma vez na vida enquanto me concentro em tudo que queria pedir para ti, pois talvez essa tenha sido a última vez que nos encontramos, pois sabe, meu bem, acho que nada tenha sobrado de mim. Um tamanho esvaziamento foi se dando, senti tudo tudo tudo escorrendo de mim, os acúmulos obscenos que eu carregava, tudo tudo tudo derretia, meu cérebro sem ácido latejava de tanta gordura e leitura, meu deus por que cargas d'água inventei de ler tanto? À noite cheguei em casa e abri logo duas cervejas, e comi bolo de chocolate dando garfadas direto da forma. Talvez eu tenha dançado e gritado, o que assustou as vizinhas, pois elas fizeram silêncio. Acho que depois saí para comprar mais cerveja, não lembro, mas olhei para a casa e achei tudo tão preenchidinho. As coisas meio que com sem lugar. Uns papéis na mesa, uns carrinhos no sofá. E poxa, aquilo me enterneceu de tal maneira que o que restou de mim percebeu que era só uma questão de felicidade. Yes benzinho, eu explico, vire-se mais para cá, sorria, é que eu sou feliz. Claro que isso me custa angústias terríveis, você nem sabe.  Mas é que para onde quer que eu olhe eu pego um atalho que me leva longe, longe daqui ou mais tarde. É que eu sei fazer isso, eu sei fazer das tripas coração, meu bem. É isso o que sei fazer, tome aqui o meu curriculum.